8 de abr. de 2011

Mudança

Estamos mudando o Blog!
Claro que de maneira lenta e gradual, porque este blog ainda recebe muitas visitas e uma boa pontuação no google.
Mas alguns posts já foram migrados e outros novos foram produzidos, por isso convido você a mais um click para conhecer o novo blog em http://pulpite.blog.br
O novo post: Não aperte as ideia: http://pulpite.blog.br/?p=684

20 de mar. de 2011

Segurança pouca é bobagem!


If you do not speak Portuguese and you wonder what is written on the balloons, this is the English version:

18 de mar. de 2011

"Fuuuu..."

Letícia olhava a televisão e espumava pelo canto da boca. Seu estômago embrulhava, a vista embaçava e a sua amiga Ana bem que tentou esconder mudando de canal. Mas o diacho já estava em rede nacional e ela catou outra emissora com exatamente a mesma cena. Letícia pensou em ferver água para jogar pelo ouvido dele, tudo isso enquanto Ana escondia o faqueiro da própria amiga.
Seis horas antes, no bucólico bairro do Lanat, mais precisamente na Rua Clínio de Jesus; Davi estava acordando de um digestivo cochilo em plena tarde de terça-feira de carnaval. Casado por dez anos com Letícia, ele é um marido exemplar e carinhoso, que lhe trata dignamente, compra presentes no aniversário dela e paga sem ver a fatura do cartão de crédito.
Foi trabalhar em seu consultório dentário nesta tarde, não por necessidade, mas por que seu paciente Valdemar – um rico empresário do ramo de cocô de boi e adubo orgânico, que paga em verdinhas vivas, fétidas e gordas – tinha explodido seu molar voltando de viagem de avião da França. Às três e meia Davi recebeu a ligação e marcou uma consulta de urgência em seu consultório na Avenida Garibaldi, quase em frente à folia.
Letícia quando soube cerrou o cenho. Estava tudo programado para os dois curtirem a folia de momo no camarote mais badalado da oceânica, all inclusive, open bar e outras luxurious amenities de cortesia dada por alguns amigos. Mas quatro dígitos num procedimento de urgência era um argumento tão sólido quando o gosto de cimento que ela sentia naquele momento.
Davi só chegou ao prédio onde fica seu consultório uma hora depois do agendado, por causa do trânsito medonho causado pela aglomeração da festa. E também era difícil se desvencilhar dos flanelinhas que subiam no capô do carro, brigando pelo direito de extorquir um trocado na moleza.  Ele deu um sorriso de canto de boca, ao frustrá-los entrando no seu estacionamento privativo.
No elevador sabia que seu Valdemar estava na porta do consultório esperando do lado de fora; primeiro porque sua atendente estava bêbada desde domingo, emendando cerveja, uísque e capeta. Não atendia o celular. Depois também porque desde o terceiro andar, sentia aquele cheiro característico daquilo que o fez rico.
A urgência pulpótica deixou Davi bastante contente consigo mesmo. Seu processo foi limpo e rápido. Depois de algumas kerrs e outras Hoedstrons tudo transcorreu sem intercorrências dolorosas e o seu abastado cliente, feliz da vida, pagou como combinado, sem nem exigir recibo.
De tão feliz que Valdemar estava, convidou Davi para sair e tomar algumas cervejas, mas frente à contra-indicação etílica feita pelo dentista, pelo menos o convidou para uma rápida passeada na folia, a poucos km dali.
Davi hesitou, mas pensou “Porque não? Se for rapidinho não machuca ninguém” Certificou-se que não seria o mesmo camarote que estariam alguns amigos, e foi.
Mas aquela morena inominada, anônima e animada; de corpo escultural com rosto que era só sorriso, chamou a atenção do doutor Davi. E quando ela percebeu o que despertou naquele galante homem de 45 anos, avançou em sua direção. Os dois se beijaram...
Valdemar há tempos buscava um pouco de credibilidade e visibilidade na sociedade, precisava tirar a imagem de comerciante de cocô. Porém, assim como o cheiro, esta imagem não saia nem com muito banho e colônias que desencadeiam crises de rinite a quem fique ao seu lado.  Sua alcunha era o Rei da Merda (de boi). Acenou bastante para o totem onde se encontravam algumas câmeras de televisão, chamando atenção para o cinegrafista que cobria ao vivo os lances da festa.
Mas o que o cameraman viu foi o espetáculo de morena que estava trançada com um felizardo dentista quarentão. Deu um zoom com sua Sony betacan-HDCamSR 1000, aumentando vinte e quatro vezes os trinta e cinco metros que o separava daquele beijo, chamado atenção do editor de imagens da ilha de edição: A cara da Bahia, o espírito do carnaval!

E o Davi, muito feliz com sua conquista, explodia de emoção, abriu metade do seu olho esquerdo e teve a sensação que todas as atenções estavam voltadas para ele. As respirações estavam prendidas, e de repente viu aquele big brother indiscretamente reluzente, aonde veio apenas uma única coisa à sua mente:
“Fuuuu... “

8 de mar. de 2011

Mulher! Mulher!


Hoje vamos celebrar mais um 8 de março, dia internacional da mulher e antes de fazer a piadinha infame do restante do ano sendo do homem, torço para que chegue o tempo de que não precisaremos mais comemorar esta data. Mas não fiquem bravas ladies, quando isso ocorrer, será bom!

Tweet de Niara de Oliveira (@NiDeOliveira71) 08/03/2011 - Reproduzido sob permissão

A mulher por muito tempo viveu à sombra da vontade de algum homem em papéis secundários e submissos na sociedade, mas este discurso é muito velho e as conquistas femininas já são de longa data.
O que ocorre agora é que ela está deixando de buscar seu espaço na sociedade à custa de se tornar igual ao homem, masculinizadas. Sua identidade e seu valor estão mais em suas ações morais, suas qualidades de caráter e em seus feitos profissionais do que trocar pneus, pagar a conta do restaurante ou lutar boxe.
Algumas revistas ainda mostram mulheres dirigindo caminhões, pilotando jatos de carreira e manejando escavadeiras de centenas de toneladas como se fosse algo sobrenatural de outro mundo. Não vejo diferença em comemorar o feito daquele filho que começou a andar de bicicleta sem rodinhas. Ranço de nossa sociedade qüingentesinária.
Entretanto ela ainda tem que trabalhar dobrado por causa da desconfiança das pessoas (entendam homens) e seu saber triplicado, por causa do mesmo defeito preconceituoso. Precisa de Leis que a amparem da violência física, psicológica e moral. Possui remuneração desigual a do homem; e se ela for negra, a sina se torna ainda pior.
O desafio da mulher moderna será o rompimento de paradigmas e estereótipos que determinam limites para suas possibilidades: Ou ela é feminina ou é feminista; ou trabalha pesado ou explora sua beleza; ou é morena ou é burra. O rótulo frio e amargo, que busca emprateleirá-la como um produto de supermercado, é conveniente a quem vive o establishiment, temerário de que ocorra mudanças.
A nova mulher, mais feminina faz de tudo, até troca um pneu. Mas seu charme torna isso desnecessário. Ela sabe que o valor de seu ser é o amor, o companheirismo, a inteligência, o espírito embativo, a sensibilidade, a criatividade… E tudo isso provoca inveja porque quando somos comparamos às mulheres, lembro-me de um trecho da música do Erasmo Carlos:

Mulher! Mulher!
Na escola em que você foi ensinada,
Jamais tirei um 10
Sou forte
Mas não chego
Aos seus pés.
Parabéns a todas vocês mulheres que estão transformando o mundo com armas intangíveis



Tweet isso!

26 de fev. de 2011

Odontologia Forense

Certa vez, uma turma boa resolveu acampar com familiares e amigos, num desses hotéis-fazenda que oferecem infra-estrutura de camping. Têm-se o gostinho de aventura dormindo numa barraca com a comodidade de banheiros e refeitórios, numa forma light de fazer um conhecido programa de índio.
No dia seguinte, houve uma comoção geral com uma repentina bagunça no local onde se localizava a dispensa. De início imaginavam que seria algum pequeno roedor, mas o tamanho do animal aumentava conforme se tinha noção da extensão do estrago. Assim que se percebeu que somente um elefante poderia ter feito tamanho estrago – e não é todo dia que se topa com um por aqui – consideraram a possibilidade de alguém ter feito uma visitinha noturna.
Quando houve uma reunião, depois de muita conversa mole e acusações para todos os lados, tudo ficou do jeito que estava. Não para dona Zenilda, uma senhora afro-baiana-descendente de mais de cinqüenta anos que tomou pra si a responsabilidade de cuidar da dispensa (também preparar algumas refeições espetaculares, para o terror de seus familiares) que costumava acordar às cinco da manhã para preparar um gostoso café. Ela, uma verdadeira CSI nível cinco, descobriu uma goiabada e levantou o padrão de mordida do perpetrador do crime: faltavam três dentes na frente!
Alguém já disse: “Droga! Deveria ser a minha epifania!”
Ronaldo é um cara legal que trabalha como empreiteiro numa pequena, porém honesta firma de construção. Nas horas vagas Ronaldo também é mestre de capoeira, não aquela capoeira de balé em que os dançarinos pulam parecendo garças e que com piruetas encantam os turistas; ele é mestre na capoeira 'regional', a verdadeira arte marcial brasileira. Afilhado do mestre Sena e discípulo do legendário mestre Bimba, ele chegou a ser bicampeão brasileiro nos tempos áureos onde até estrangeiros participavam. Sua fama custou-lhe os incisivos centrais superiores e o incisivo lateral – os dentes da frente – fruto de uma 'meia lua de compasso' do seu arquiinimigo, o mestre Deusdete.
Arquiinimigo uma conversa. Quando não estão competindo, os dois vivem aprontando.
Durante uma noite depois que todos foram dormir Ronaldo e Deusdete cansados do futebol que os fez perder o horário da janta, atacaram a dispensa improvisada do camping, onde estavam estocados os alimentos. Eles bagunçaram tudo de maneira entrópica e antes de sair, Ronaldo abriu uma goiabada e sapecou uma dentada daquelas que encheu a cavidade bucal como se fosse sua última refeição de toda semana.
Teria sido tudo perfeito, se Ronaldo não tivesse decidido adiar após o acampamento a confecção de sua ponte fixa.

18 de fev. de 2011

Jocilene


Jocilene* tem apenas dezenove anos, é mãe de dois filhos e uma pessoa muito fechada. Sei que as pessoas que moram nas regiões rurais são um pouco desconfiadas, mas ela eleva isso ao cubo. Não que seja mal-educada, mas sua sisudez impressiona.
Seu filho caçula tem dois anos de idade e lembro bem a ocasião do seu nascimento: A equipe estava terminando os atendimentos da tarde, quando recebemos o ‘recado’ de que ela estava em trabalho de parto desde manhã. Cruzou as pernas e suportou as dores sem dar um grito, por todos os tortuosos vinte quilômetros de estrada de chão, que separam a comunidade do Riacho, da maternidade na sede da cidade. O menino nasceu enquanto preenchíamos os dados de sua mãe na recepção. Como disseram por lá: ‘escorregando como um quiabo’. Ficamos surpresos com a fibra e a coragem desta menina que, na época, tinha apenas dezessete anos.
Dizem que ela nunca chora, nem sente dor. Desde nova, tem uma vida difícil, aprendendo como é dura a luta de quem mora com uma família numerosa e que subsiste do que a terra dá. Casou-se também cedo com um homem bem mais velho e seu primeiro filho, ela teve com dezesseis anos.  Eu quero pensar que seja para tentar se livrar daquela rigorosa realidade e para dar um alívio à sua mãe, na pressão de alimentar tantas bocas.
Sempre que eu via Jocilene,  estava agendada para a enfermeira ou o médico, em suas consultas de puericultura, rotineiras no primeiro ano de vida de seu filho. Eu acenava à distância e procurava fazer um lembrete mental de cobrar sua visita. Mas hoje Jocilene, afinal, teve que ir ao dentista.
O seu problema dentário foi adiado até findar seu estoque de desculpas e quando ela foi a mim, descobriu infelizmente que seu molar estava irremediavelmente estragado. A saída seria removê-lo. Enfim, como acontece com muitos dos pacientes daquela comunidade e já esperando por isso, assentiu.
Aconteceu que antes de qualquer coisa, Jocilene cansou-se daquela imagem da corajosa menina-mulher de fibra e decidiu ser quem ela é realmente. Na minha cadeira ela chorou, soluçou, ficou com medo e contristou-se envergonhada. Dizia que não sabia o porquê daquilo acontecer (queria fazer-se acreditar que não tinha medo), enquanto desciam-lhe as lágrimas sem nada ter-se iniciado ainda.
Mas quer saber? Eu gostei.
Gostei de ver sua couraça junguiana de tanque de guerra, que foi elaborada anos a fio em busca de sua adaptação social, ceder lugar a aquela criança frágil (sua persona sem máscaras) que estava com medo do desconhecido. Não estou dizendo que gostei de vê-la sofrendo, de jeito algum! Mas naquele momento, estava acontecendo algo novo onde nem ela sabia direito e representa uma mudança muito positiva em sua vida, eu não poderia deixar de ser impactado.
Jocilene vai aos poucos procurando sua homeostase psicológica, compensando as etapas atropeladas de sua vida na medida em que suas emoções e seus anseios vencem suas barreiras auto-infligidas. Possivelmente isso ocorrerá aos trancos e barrancos, e o que eu vi pode ser mais que apenas reflexo de uma passageira fragilidade emocional. Uma vida inteira de amostras grátis emocionais está reservada para essa menina daqui pra frente.
Depois que ela se acalmou, o processo clínico transcorreu tranquilamente e não durou mais que quinze minutos. Quem sabe sua maneira de ver o mundo comece a ser abalada por uma simples visita ao dentista?

______________
*Não é seu nome real, OK?

Meme Motivacional

15 de fev. de 2011

Dra Fran Ectomia - Radiografando

Esta é uma verdadeira 'lenda urbana' no nosso meio; não resistir em colocar Fran neste apuro:

12 de fev. de 2011

Dra Fran Ectomia

Eu sei! Idéia copiada descaradamente do nosso querido Dr. A. Zedo do Dicas Odonto: http://www.dicasodonto.com.br/ Mas achei tão interessante que o Dr A. Zedo agora ganhou uma 'corega', a dra Fran Ectomia.

11 de fev. de 2011

Medo do colega

Sérgio acordou bem disposto nesse dia, mas na hora do seu café da manhã, aquela torrada com goiabada reservou para ele uma pontada no dente. De repente viu que não poderia procrastinar mais o que há tempos evitara com tanto ardor: Sua ida ao dentista.
Bom... É normal ter medo. Aqueles aparelhos, aquele motorzinho, os alicates, a agulha... Mas uma coisa o tornava diferente das demais pessoas com medo: Sérgio é dentista. 
Quando chegou a seu consultório, pegou a lista de telefones de todos os seus colegas de faculdade e começou a ponderar qual a colega mais magrinha teria a mão mais leve e preço mais em conta. Lembrou que em algumas aulas práticas quando tinha que fazer dobras de fios ortodônticos, tinha uma garota que reclamava de ter seus dedos feridos com as pontas dos fios. Ela odiava ter que machucar suas mãos delicadas... – É essa! Como se chamava mesmo? Fúvia? Núbia? Isso! Núbia! – Ele nem precisava procurar na agenda, sabia que ela trabalhava naquele prédio chique que construíram a toque de caixa no elegante bairro do Itaigara:
– Rose? Desmarque aquela senhora das onze e meia, que eu preciso ir... Hã... No mercado.
Dra Rúbia Francielly é uma dentista muito bonita e extremamente metódica. Baixinha, magrinha, de cabelos negros e olhos altivos, sua organização beira à compulsão. Se uma linha bem tênue entre a normalidade e o que é patológico existisse, digamos que ela soube muito bem tirar proveito.
Estava no seu oitavo e último atendimento, faminta por causa de seu café da manhã: uma fatia de pão integral com margarina diet, um suquinho de lima com adoçante e o caderno policial do jornal A Tarde. Começava a sentir uma pressão em sua espinha e parecia que era o seu estômago.
E também já tinha dado uns três gritos no menino Luquinhas – seu paciente de oito anos que parecia ter uma opinião própria de como deveria seguir o tratamento; outros quatro em sua mãe a espanhola dona Lila, que assistia toda confusão em estado lisérgico. A resina do Luquinhas estava quase acabando, quando sua atendente deslizou de modo muito peculiar e tristemente familiar: alguém chegou.
– Oi Lamento, mas estamos encerrando pela manhã – Resmungou a atendente, dona Roquinha, com um olhar de poucos amigos.
– Olá tudo bem? Este é o consultório de Núbia, não? Eu sou amigo dela e preciso muito falar. Vai ser rápido – Ao longo dos anos, Sérgio desenvolveu uma habilidosa técnica de lidar de maneira teflônica com gente mal-humorada.
– Agora é o horário de almoço e dra RÚbia não vai mais atender – Suave como mocotó de boi, Roquinha já estava dando meia volta em direção a sala.
– Ah! Não se preocupe, eu quero apenas conversar com ela. Olha, sou dentista também.
Vencida não por uma argumentação lógica, mas pela possibilidade de transferir para a sua chefa a responsabilidade de lhe dar um fora, Roquinha grunhiu uma afirmativa.
Rúbia conversava com dona Lila, mas estava com o canto do olho na porta entreaberta da recepção. Queria pegar um lance da situação que acontecia, mas embaralhava tudo com as recomendações para o Luquinhas.
– Diz que é dentista e que é seu amigo.
Roquinha consegue vocalizar sem mexer os lábios e Rúbia pensa em confeccionar uma placa miorrelaxante mais grossa para esse bruxismo. Ao remarcar Luquinhas, ela olhou e viu o Sérgio, tentando puxar da memória onde conhecia aquele rapaz. Talvez não se lembrasse de suas aulas de dobrar fios porque suas mãos pesadas sempre a faziam se cortar nas pontas afiadas.
– Olá colega, como vai? – Diz Rúbia;
– Olha Rúbia, se estou atrapalhando, volto outra hora... – Diz Sérgio usando o truque mais velho de psicologia do paradoxo que existe.
– Deixe disso, vamos... Diga como posso ajudá-lo?  – Começou a preencher a ficha enquanto Roquinha cuidava de limpar o consultório.
– Ah! Bem, eu... – Sérgio começou com o seu nascimento. Ressaltou como foi lindo o seu enxoval, contrastando com as complicações do seu parto. Passou pelas experiências peculiares de sua infância, relacionando-as com as cronologias eruptivas de seus dentes de leite. Citou toda a sua aprendizagem de ensino fundamental até a conclusão da faculdade, pontuando também todas as patologias que teve neste período: do resfriado à apendicectomia, nada escapou ao seu relatório. Rúbia tinha todo o histórico clinico do cirurgião-dentista, menos a sua queixa principal...
– Qual dente dói?
Anssa anquee óó... – como um contorcionista do cirque du soleil, Sérgio aponta pro dente errado.
– hum! Parece que a obturação infiltrou...
Rúbia olha para Roquinha. O nível de entendimento entre as duas era tal que ela poderia passar um texto inteiro sem dizer uma palavra. Aquele olhar dizia “Roquinha pegue a seringa de anestésico, dois tubetes, a cureta duflex comprada no mês passado; a espátula de titânio para o serviço ficar mais caro, o adesivo autocondicionante italiano de quinta geração; a resina nano-híbrida; o porta-matriz a cunha de madeira e faça rápido que estou faminta”. Menos de um minuto estava tudo ao seu alcance.
– Muito bem! Por favor, Sérgio, abra bem a boca.
– Calma colega eu estou com medo... Espere um pouco... Tem pomadinha não?
– Você também é dentista, sabe de tudo que vai acontecer... Não precisa ter medo. Rúbia esguicha pro alto um pouco de solução anestésica pela seringa carpule, que congela a espinha de Sérgio até o fundo dos olhos
– Mas eu tenho, a agora estou em pânico!
Num movimento de pura habilidade, Sérgio puxa a seringa de lançar água do equipamento de Rúbia, ameaçando-a com um mortífero spray de água.
– O que você está fazendo? – Pergunta Rúbia sem ação, porque deve ser supernormal um paciente ameaçar o dentista com uma seringa de água.
– Ele vai te molhar – Range Roquinha, pensando em algo abominável para acabar com aquela situação;
– E-eu apenas quero uma pomadinha!
– Me dá isso aqui – Rúbia puxa a seringa de água com a mão de Sérgio ainda por baixo, no mesmo momento que ele por reflexo aperta todos os botões que pode: um esguicho fatal de água mineral direto no rosto de Roquinha.
– Ah seu filho da...
– Solta isso! – Rúbia grita pela oitava vez nesta manhã.
– Solta isso! – Grita pela primeira vez Roquinha, que sem enxergar direito, segura por cima da mão de Rúbia; que segura por cima da mão de Sérgio; que continua a apertar os botões: O esguicho agora foi nos óculos de Rúbia...
– Ah, seu filho da...
Roquinha, recuperada da momentânea perda da visão por motivos hídricos, põe em pratica o que desejava fazer desde que o viu entrar na recepção e aplica um jab de esquerda (com uma limpa visão direta) no queixo do Sérgio. Knockdown muito melhor que a sedação por óxido nitroso.
– Porra! – Após praguejar Rúbia aplica sua anestesia com toda técnica anestésica de bloquear quadrúpedes.
Sergio ao sentir a ardência (porque o murro ele não sentiu, Roquinha bateu legal) percebe que o lado que está anestesiado não coincide com o lado da pontada matutina.
– Anssê ráamplirano nurulugar anrrado!
– Cala a boca! – Rúbia procura pelo fórceps na bandeja quando se dá conta que é só uma obturação;
– Anssê ráamplirano nurulugar anrrado! – repete Sérgio com a boca cheia de rolinhos de algodão estratégicamente posicionados para não se ouvir mais a sua voz.
Rúbia provavelmente não iria obturar o dente errado, mesmo anestesiando o lado contrário, tonta por causa de seu novo paciente. Mas o Sérgio não tinha disposição de esperar, nem de furar dente algum; e estando muito bem seguro pela Roquinha, tinha que agir rapidamente.
Pulou da cadeira, derrubou a bandeja, esgarçou o sugador; espetou a anestesia na perna, derrubou Roquinha e arrastou Rúbia. Entrou no sanitário por engano, saiu levando o rolo de papel higiênico grudado no sapato; esbarrou no batente da porta resvalou pro lado e finalmente escapou fedendo do consultório.
Rúbia olha mais uma vez para Roquinha:
– Vamos numa pizza? Eu pago!

4 de fev. de 2011

Manual de Manipulação da Verdade

A verdade é absoluta, certo? Depende... Há controvérsias. A verdade está sujeita a uma interpretação pelos sentidos daquilo que é a realidade. Em virtude disso, se em essência ela não pode mudar, você manipular a forma com que ela é percebida. A verdade sempre esteve do lado do mais forte ou do mais esperto, portanto, você pode se "instrumentalizar" de modo a se tornar um "operador" da verdade.
Depois de sofrer com a malícia e maldade de alguns que sem constrangimento usam da boa fé de outrem para construir alicerces prósperos, resolvi elaborar um pequeno e resumido manual do uso não muito ético da verdade, afinal quem não ilude não sabe quando está sendo iludido.
Observe alguns exemplos práticos de como alguns usam da verdade:
1. Use e abuse de Falácias.
Falácias são argumentos sem sustentação lógica aparente, tendo apenas validade emocional. A falácia apela ao populismo, à força, a exaustão, dentre outras coisas. A falácia é um instrumento poderoso para usar com pessoas de pouco estudo ou que estejam sob algum tipo de pressão psicológica que abale sua cognição. Atenção: A falácia é facilmente derrubada pela sua própria argumentação, o ideal é vir em linhas gerais, tipo ‘abordagem de horóscopo’;
2. Discuta sobre a credibilidade do transmissor da mensagem.
Lembre-se que todo ser humano tem falhas, e possivelmente desconfia se outras pessoas sabem ou não delas. Se a mensagem for positiva pra você, não se importe, pois dela se trará mais benefícios. Mas se for negativa, sem problemas! Questione a integridade daquele que trouxe e assim atrairá mais atenção por sobre este do que o próprio conteúdo relevante da mensagem;
3. Manipule os fatos.
O fato em si não muda, mas sua prova pode sofrer diferentes tipos de interpretações, principalmente se for através de documentos e notas fiscais frias. Mostre alguma referência que nunca ou dificilmente será checada. O tempo perdido em se procurar o fundamento pode desestimular
4. Mantenha uma postura sínica.
Seja descarado se por ventura sua argumentação se esvair. Faça cara de blasé e diga que está vendo o que ninguém mais vê, apele ao sobrenatural. Não se importe com o sofrimento alheio, a verdade nunca leva um esperto ao sucesso.
5. Por fim, minta.
Mas o faça de maneira teatral, com embasamento emotivo e psicológico (porque o real não existe mesmo). Se tudo falhar e aparecer à verdade, procure em alguém o opróbrio expiativo.

28 de jan. de 2011

Pulpite



Olá, mudamos este texto para o endereço  http://pulpite.blog.br/?p=686 convido a mais um clique e veja do que se trata a Pulpite. 
Abraços, 
Geisson.
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